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Os brasileiros são os mais ansiosos do mundo, classifica a OMS

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O Brasil é o país com o maior número de pessoas ansiosas do mundo: 18,6 milhões de brasileiros – ou seja, 9,3% da população – convivem com o transtorno, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O relatório, publicado em março, indica que a ansiedade é a segunda condição mental, depois da depressão, com maior incidência de incapacidade na maioria dos países analisados. A entidade ainda revelou que o Brasil também ocupa o topo do ranking quando o assunto é o tempo de convivência com a incapacidade provocada por transtornos psicológicos. Aliás, essa não é a primeira vez que ocupamos a primeira posição: no relatório de 2017, o Brasil já tinha recebido o título de “país mais ansioso do mundo”.

O novo estudo, que avaliou as consequências dos transtornos mentais nas Américas, apontou ainda que não é apenas o brasileiro que sofre com os transtornos de ansiedade. O Paraguai, por exemplo, foi eleito recentemente como um dos países com maior índice de felicidade do mundo; no entanto, ele ocupa o segundo lugar na lista de países mais ansiosos da OMS, seguido por Chile, Argentina e Colômbia. Entre todos os países das Américas, Canadá e México são as nações que apresentam os menores índices de ansiedade.

De acordo com a OMS, fazem parte do espectro dos transtornos de ansiedade, as fobias, o transtorno obsessivo compulsivo (TOC) e os ataques de pânico. Todas essas condições podem ser tratadas através de terapia e/ou medicação. Apesar disso, ainda existe um tabu em relação ao tratamento, especialmente quanto ao uso de remédios.

Uso de medicação

Ao chegar ao consultório médico, a maioria dos pacientes mostra-se incomodado pela necessidade de medicação, principalmente porque ainda há certo preconceito com medicamentos psiquiátricos, além de existir alguns mitos envolvidos no uso de medicamentos. “As duas frases que eu mais ouço na clínica são ‘eu não queria tomar remédio’, na primeira consulta; e ‘eu não queria parar de tomar os remédios’, na consulta seguinte. A gente tem muita resistência porque existem muitos mitos: ficar viciado, bobo, impotente, engordar”, explicou Daniel Martins de Barros, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.


Parte do preconceito a respeito de medicamentos psiquiátricos está relacionado às substâncias utilizadas nas últimas décadas. “Ou usávamos drogas bem pesadas, como barbitúricos, ou as que existem até hoje, como as faixas pretas, os benzodiazepínicos. Por isso, nós vimos várias tias, avós, viciadas em remédios e essa é uma das imagens gravadas quando pensamos em tratamentos psiquiátricos”, contou Neury Botega, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Felizmente, este cenário começou a mudar a partir de 1990, quando a fluoxetina, mais conhecida comercialmente como Prozac, tornou-se popular. Para Botega, isso mudou totalmente o paradigma do tratamento da ansiedade. “Hoje, para tratá-la, na maioria das vezes usamos medicamentos que aumentam a atividade de um neurotransmissor chamado serotonina. É o nosso Bombril: mil e uma utilidades”, comentou a psiquiatra.

Duração do tratamento

Segundo Martins de Barros, o medicamento para ansiedade só é prescrito quanto existe uma relação de custo-benefício a favor do paciente. A duração também é variável, dependendo das necessidades de cada paciente. “Ele pode durar um tempo ou ser necessário pela vida inteira. Ansiedade é como pressão alta: quando descontrola, às vezes é para sempre. Você pode controlar com atividade física, meditação, terapia, mas ela vai estar sempre ali te ameaçando”, explicou.

Medicalização


Leandro Karnal, historiador e colunista do jornal O Estado de S. Paulo, aponta outro lado da questão e vê uma “medicalização” do comportamento humano. “Se o aluno não consegue acompanhar as aulas, dão remédio para ele. Nem todo mundo que não presta atenção tem déficit de atenção. A aula pode ser chata mesmo”, argumentou.

Já Rosely Sayão, psicóloga e consultora em educação, chamou a atenção para o que ela intitulou de “epidemia de diagnósticos”, que envolve leigos e profissionais de saúde. Para ela, cada um de nós hoje usa a lógica médica para olhar para o outro e dizer: ‘Essa pessoa é chata; essa pessoa tem TOC; fulano surtou’. “Nós vivemos à base de diagnósticos e, quando fazemos isso, apagamos a pessoa que está por trás dele”, concluiu.

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